Carta aberta ao Excº Sr. Reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
“SMALL IS BEAUTIFUL”…É esta uma das suas expressões mais emblemáticas acerca da cidade de Miranda do Douro, senhor Reitor. Mas pelos vistos não é “beautiful enough”… Aliás, segundo as suas palavras, não é viável! Vejamos então: será que não é viável porque os alunos não querem vir para Miranda do Douro? Não deve ser por isso porque quer serviço Social, quer mesmo Antropologia Aplicada ao Desenvolvimento sempre estiveram entre os cursos com mais candidatos entre todas as licenciaturas da UTAD.Será porque as vagas não são preenchidas? Também não creio que seja esse o motivo de tal inviabilidade, pois como vossa excelência mesmo afirmou a um determinado jornal há apenas uns meses atrás, tem plena consciência que se abrisse cem vagas para serviço social em Miranda do Douro, essas cem vagas eram imediatamente preenchidas!Será então porque os próprios alunos não querem ficar em Miranda do Douro, e preferem ir para Vila Real? Pois, também não pode ser por isso, porque como o senhor reitor bem sabe (quer o admita ou não), numa Reunião Geral de Alunos, realizada em Miranda do Douro há cerca de um mês, a esmagadora maioria dos alunos votaram pela permanência em Miranda do Douro! Então será que é motivos de insustentabilidade financeira? Até poderia ser um motivo válido e plausível, mas não quando o excelentíssimo senhor reitor e o Magnífico Senado da UTAD aprovam uma medida, que implica custos redobrados, pois terá alunos de serviço social em Vila Real e em Miranda do Douro, o que implica mais deslocações ainda por parte dos docentes! É que durante a minha Licenciatura em Serviço Social (na altura ainda Trabalho Social), a cadeira de Economia fazia parte do plano curricular, e continua a fazer, e como o docente que me leccionou essa cadeira, era excelente, tenho conhecimentos suficientes para lhe dizer que, financeiramente, é uma má opção, logo, por motivos financeiros também não deve ser!Será então por falta de empenho por parte dos responsáveis autárquicos e outras forças vivas da cidade de Miranda do Douro? Definitivamente não pode ser isso, pois como vossa excelência mesmo disse, Miranda sempre mostrou mais vontade e empenho na manutenção do seu pólo do que Chaves! Pois é, mas Chaves continua e Miranda está entregue a uma morte lenta. Uma morte lenta que nenhuma comissão Avaliadora pode contrariar, pois tal como vossa excelência afirma, depois de implementada esta decisão de abrir o primeiro ano da licenciatura em Serviço Social em Vila Real, já não à volta atrás.Mas então se nenhum destes motivos justifica esta morte lenta a que vossa excelência condenou o nosso querido pólo, e talvez a própria cidade, qual será então o real motivo que o leva a, numa atitude desinformada e ditatorial, a ignorar completamente a vontade dos seus alunos, que pagam uma das mais altas propinas (senão a mais alta) em vigor no nosso ensino superior? A única coisa que vossa excelência conseguiu provar é que, ou quer levar o pólo de Miranda do Douro para Vila Real a todo o custo, e para isso é capaz de dizer todo o tipo de “inverdades”, ou então tem um conhecimento quase nulo acerca do que realmente se passa nos pólos da sua universidade. Seja como for, senhor reitor, acabe com as suas contradições diária, porque ninguém aqui se contradiz tanto como o senhor, e tenha a coragem de admitir as suas intenções e motivações, bem como as consequências dos seus actos, e principalmente, respeite a vontade e proteja os interesses dos seus alunos, pois é deles que depende o futuro da sua universidade.
Com os melhores cumprimentos.
Carta aberta ao Excº Sr. Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior
A Constituição Portuguesa prevê numa das suas alíneas a Igualdade de Direitos de todos os cidadãos portugueses no acesso à educação. Mais ainda, e particularmente com o vosso governo, foi criada a esperança nos portugueses que todos teríamos mais facial acesso a essa educação, às novas tecnologias, e ao ensino superior. Caso vossa excelência não tenha conhecimento, mas tem com certeza porque já vossa excelência fazia parte do executivo que governava o país quando o Pólo da UTAD em Miranda do Douro abriu no ano de 1997, esta foi uma nova oportunidade dada a uma pequena cidade encravada no cimo de um planalto, mesmo às portinhas de Espanha. Revitalizou-se o comércio, revitalizaram-se os serviços, e mais importante, revitalizaram-se as pessoas e as mentalidades. A realidade que temos hoje é que muitas pessoas do concelho de Miranda do Douro, e concelhos limítrofes, que nunca tiveram a oportunidade de tentar o ensino superior porque, por uns motivos ou por outros, não puderam abandonar as suas casas e deslocar-se para os grandes centros onde se concentravam as instituições de ensino superior, tiveram, com a abertura do pólo em Miranda, essa oportunidade única de se formarem como pessoas e como profissionais. Mais ainda, o pólo deu a oportunidade a esta pequena e quase esquecida cidade de receber sangue novo, estabelecendo uma relação de imediata empatia com os estudantes que todos os anos aqui chegam, e que muitos deles, eventualmente, acabam por se fixar por cá. Verificou-se também, desde a abertura do pólo, uma diminuição cada vez maior da tendência que os jovens da terra tinham para a abandonar, em busca do ensino superior, pois passaram a tê-lo mesmo aqui ao lado. Quando uma das principais prioridades dos governos que sucessivamente entram e saem é o combate à desertificação das zonas interiores, com resultados pouco ou nada animadores, este pólo é uma prova de que é possível os jovens manterem-se e enraizarem-se em zonas interiores como a do planalto mirandês, desde que haja condições e motivações.Mas eis que alguns anos depois, um senhor a que todos chamam de Excelentíssimo ou Magnífico Reitor da Mui Nobre Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, que desde que foi eleito para o cargo sempre assumiu uma posição antagonista em relação aos pólos, decide acabar com tudo isto, transferindo o primeiro ano da Licenciatura em Serviço Social para Vila Real Já no próximo ano lectivo, concedendo ao pólo de Miranda do Douro mais dois anos de vida, perdão, de morte lenta e agonizante.
Por ser eu um daqueles que acreditam que o vosso governo está aos poucos a colocar o país no seu devido rumo, peço a V. Ex.ª. que não permita que aquilo que começou como um sonho, e que estava já a ter resultados práticos, seja abruptamente extinto por um indivíduo que não se sabe ao certo quais as suas reais motivações. Com o vosso apoio, o pólo de Miranda é viável, e pode mesmo vir a ser um exemplo no seio do ensino superior em Miranda do Douro. Temo eu que o problema seja exactamente esse: Miranda do Douro, uma pequena cidade do nordeste transmontano, encravada entre montes e Espanha, não pode ser um exemplo para as outras cidades com ensino superior, principalmente para a cidade de Vila Real. Peço que interfira e que nos ajude a manter esta segunda vida que o pólo trouxe à nossa cidade, para que nós, mirandeses, não desejemos um dia hastear por cá a bandeira da nossa vizinha Espanha.
Com os melhores cumprimentos,
“ L PEQUEINHO YE GUAPO”
Movimento pela continuidade do Pólo em Miranda do Douro
Sérgio Vaz
José Seixas
Hugo Ferreira
Ivo Mendes